Frosting on the Beater: 20 anos

Jon Auer e Ken Stringfellow - os cabeças do The posies

Jon Auer e Ken Stringfellow – os cabeças do The posies em ação

Os anos 90 foram responsáveis pela minha formação musical, por direta ou indiretamente, eu já nem sei mais, me inciar num certo tipo de música e me fazer querer consumi-lá mais e mais, por me estimular a aprender a tocar um instrumento, por incutir em mim a vontade de ter banda, essas coisas. Mas também, de uma forma mais ampla, por me fazer pensar respeito do que seja arte, por me tornar um ser pensante, consciente do que acontecia ao meu redor… para o bem ou para o mal, os 90’s são responsáveis pela maior parte das coisas que formam a base do que sou hoje. Tudo começou com Kurt e aquela lorota toda, e tardiamente, diga-se, pois só fui ter consciência do mundo já ali pela segunda metade da década… Tudo isso pra dizer que mais um álbum essencial na minha musicoteca pessoal completa 20 anos agora em 2013.

Foi lá 1993, quando uns garotos do estado de Washington nos EUA, com umas ideias bem definidas do que queriam fazer – música pop com guitarras altas e melodias grudentas -, reunidos sob o nome The Posies, lançaram essa obra prima do power pop em toda sua história. São doze faixas concebidas pela dupla de compositores que ainda hoje me influencia muito – Jon Auer e Ken Stringfellow, líderes da banda.

O The Posies estava inserido ali naquela cena musical autêntica e diversa que se formou ao redor de Seattle, com bandas que normalmente não eram originárias da cidade, mas que se tornaram conhecidas numa escala muito maior por causa dela – a cidade aglutinadora do mito grunge. Porém, apesar de Seattle, o Posies nunca esteve nas cabeças do grupo de bandas que se deu bem comercialmente com todo o buzz em cima do movimento cultural americano mais conhecido dos anos 90, pelo contrário. Na verdade, a banda só conseguiu algum reconhecimento comercial com os dois primeiros singles do disco sobre o qual escrevo: Dream All Day e Solar Sister tiveram seu momento MTV e tocaram muito nas rádios universitárias alternativas americanas, mas foi só. A concorrência à época era muita, e a banda, apesar de ótima, era peixe pequeno, pequeníssimo, perto de um um Nirvana, Pearl Jam ou Smashing Pumpkins da vida.

Frosting on the beater: 20 anos

Frosting on the beater: 20 anos

Frosting on the Beater é o terceiro álbum da banda. Foi lançado em 93 por uma major, a DCG, uma subsidiária da Geffen, por sua vez responsável por grande parte dos bons lançamentos das bandas daquela década. O disco anterior e o posterior do Posies, Dear 23Amazing Disgrace, respectivamente, também foram lançados pela DCG, ambos ótimos. O posto de obra prima, contudo, é do álbum que traz os dois maiores hits da banda e um punhado de canções lindas como Coming Right Along (trilha do já clássico filme O Diário de um Adolescente), Love Letter Boxes e 20 Questions.

Os compositores e líderes da banda revezam nos vocais e nos riffs, aliás o trabalho vocal de ambos é perfeito, nas harmonias, nas definições das melodias… e quantos riffs bonitos! As letras, em sua maioria passionais, falam sempre de relacionamentos, tentativas e falhas, ou experiências particulares por vezes obscuras ou traumáticas. Não há como fugir do lugar comum de dizer que o que tem de mais genial nesse disco é a forma cuidadosa como todas as canções foram concebidas e produzidas. Simples assim. O álbum inteiro é um belo manifesto power pop, canções que não abdicam de serem canções apesar do uso constante de guitarras altas e distorcidas, uma obra que estar ao lado de grandes trabalhos de gente mais reconhecida como Teenage Fanclub e Big Star.

Veja a execução do disco na íntegra num show da banda no País Basco em 2008:

 

A banda continua na ativa, mas sem muito alarde. Os dois líderes da banda lançam discos ocasionais, seja nas carreiras solos, seja como colaboradores ou como produtores. O Ken Stringfellow é mais ativo, participou como músico de apoio de grande parte da carreira do REM, em disco e shows, e tem uma carreira solo profícua – lançou um bom álbum em 2012, inclusive, o Danzig in the Moonlight, o quinto desde 1997, ano de lançamento do seu debut. O Jon Auer é mais discreto, deu prioridade ao seu trabalho de produtor e colaborador. Ambos fizeram parte da volta do Big Star em 1993, banda cuja influência é mais que direta e evidente na estética sonora do The Posies. Enfim, eles ainda estão por aí fazendo música boa. Se você não conhece o trabalho da banda, ou dos dois, vale muito a pena ir atrás. E se possível, comece por essa belezura que é Frosting on the Beater.

Sobre Paulo Henrique Moraes

sempre entre a palavra e a música.

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